O atual presidente do FC Barcelona, Sandro Rosell (foto) levará Joan Laporta aos tribunais. Foto: Lluis Gene

Sandro Rosell prometeu e cumpriu. Uma das primeiras ações que anunciou ao assumir como novo presidente do FC Barcelona seria investigar as contas do clube na gestão de Joan Laporta. O fato se consumou e trouxe números reveladores e surpreendentes. Ao acabar seu mandato após sete anos na presidência do Barça, Laporta e a sua diretoria afirmaram que o clube fechou a temporada 2009/10 com um lucro próximo aos 11 milhões de euros. A auditoria de Rosell descubriu que na verdade foram 79 milhões de prejuízo na última temporada (48,7 milhões se levar em conta os sete anos do seu mandato).

O novo presidente do Barça realizou uma assembléia em Barcelona no último dia 16 de outubro e os sócios votaram quase unânimes que os números apresentados por Rosell eram os verdadeiros. Depois foi realizada outra votação (essa muita mais apertada) para saber se deviam processar judicialmente o ex-presidente Joan Laporta e obrigar que tanto ele como todos os integrantes da sua diretoria paguem cada um o equivalente a 2,56 milhões de euros para cobrir as dívidas provocadas por gastos injustificáveis. Por somente 30 votos de diferença decidiram levar Laporta aos tribunais, o que gerou uma fratura social dentro do clube e que muitos crêem que afetará a parte esportiva.

Joan Laporta numa foto com o ex-craque Johan Cruyff e sua esposa. Cruyff é um dos que aprova a gestão de Laporta no Barça. Foto: LD Sport News

Laporta organizou uma entrevista coletiva na semana passada em Barcelona e classificou Rosell de “invejoso e ciumento”. Afirmou também que apresentará um processo criminal contra ele e que dita assembléia será anulada pela justiça. A sociedade catalã está dividida. Do lado de Laporta pesa o fato dele ter feito a melhor gestão esportiva da história do Barcelona. Em sete anos, duas Champions League, quatro Ligas Espanholas, entre outras conquistas. Além disso, quase dobrou o número de sócios no seu mandato e deixou um grupo de jogadores cujo valor é incalculável. Agora, resta esperar a decisão dos juízes (não os esportivos) para saber o desfecho dessa trama.

Veja alguns dos gastos injustificáveis realizados durante o mandato (2003-2010) do ex-presidente do FC Barcelona, Joan Laporta. Os dados foram revelados pela empresa de auditoría KPMG, responsável pela investigação no clube:

– Vôos privados: Um gasto no total de 362 mil euros correspondentes a sete viagens. Somente duas delas eram justificáveis.

– Compra de entradas: O clube adquiriu para uso interno e não dos sócios, entradas para distintas finais esportivas, algo não permitido no clube. Foram gastos 631 mil euros em 1518 entradas para a final da Champions League e mais 177 mil euros para a ´Final Four´, decisão da liga européia de basquete em Paris, este ano, onde o Barça sagrou-se campeão.

– Comissões a Mino Raiola: A remuneração do agente de Ibrahimovic foi de 8 milhões de euros (3 milhões no preço, um de faturação e outros quatro por rescisão de contrato, o que acabou acontecendo). Os últimos quatro, o Barça seguirá pagando anualmente durante os próximos quatro anos.

– ´Prêmios` para Ibrahimovic: O pior negócio da história. O Barça pagou ao sueco Ibrahimovic um total de 4 milhões de euros para que ele se adaptasse a cidade de Barcelona. O custo total da aquisição do sueco foi de 69,9 milhões de euros e na sua venda após somente um ano no clube, o Barça perdeu algo em torno de 37 milhões.

– Viagens não-oficiais: O clube apresenta gastos difíceis de explicar, como viagens pessoais, algo que custou um total de 5 milhões de euros.

– Entradas para U2: Um dos gastos mais surpreendentes foi o realizado para a compra de 1.644 lugares para o show do U2 realizado no estádio Camp Nou, em 2009. Para isso desembolsou um total de 90 mil euros.

– O cartão de crédito do segurança: Os gastos atribuídos à presidência e seus diretores se realizavam através do cartão de crédito do segurança de Laporta. Na última temporada acumulou um valor de 53 mil euros em pagamentos não justificáveis de restaurantes em período de férias e locais noturnos.

– Outros cartões ´fundidos´: O gasto de um dos vice-presidentes da gestão Laporta não possui justificantes. Apresenta estadias em hotéis do Dubai, Qatar, Abu Dhabi e Londres. O total gasto com o Visa ascendem os 318 mil euros.

– Espionagem: Laporta se encarregou de botar detetives particulares atrás de alguns dos seus dirigentes, jogadores e outras pessoas alheias ao clube. A imprensa espanhola publicou nesta semana que Ronaldinho, Deco, Eto´o e Piqué, entre outros, foram alvos de investigação na gestão do ex-presidente. O valor dos gastos neste assunto foi de dois milhões de euros e foram realizados ente 2005 e 2009.

– Um seguro anti-corrupção: Aí foi onde Laporta parece que se declarou culpado. Ele fez um seguro de um total de 84 mil euros para ele e seus dirigentes que cobre em até 25 milhões de euros possíveis ´atos incorretos´ da sua gestão. Leia-se atos incorretos justo o que consta de acusações contra ele.