Uma das tristes imagens da violência vista no estádio Couto Pereira, em Curitiba, numa partida do Campeonato Brasileiro de 2009. Foto: LD Sport News

O domingo foi de Atletiba aqui em Curitiba. Um dos maiores clássicos do futebol brasileiro. Rivalidade quase centenária, que ativa todos os sentidos dos torcedores de Atlético e Coritiba. Como em todo o mundo, é dos jogos que mais trabalho dão às autoridades que devem se preocupar com a segurança da população. Mas, pelo menos por aqui, o que se vê são medidas estúpidas, incipientes, daquelas que alguém sugere por não saber o que fazer.

A capital paranaense já rodou o mundo com imagens negativas ano passado, na última rodada do Campeonato Brasileiro. Deprimentes cenas de torcedores do Coritiba em guerra com a polícia dentro do gramado do Estádio Couto Pereira depois de um empate que derrubou o alviverde paranaense à segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Após isso, muitos presos, mas nenhum punido. Sobrou para o clube, que pegou um gancho de 30 mandos perdidos e pesada multa de R$ 610 mil. E os selvagens, protagonistas de toda a confusão? Deveriam mofar numa cadeia, mas que continuam fragorosamente aprontando das suas.

A conhecida retórica é relevante para analisar a “importante medida”, proposta, adotada e válida a partir deste fim de semana para todas as partidas realizadas no Paraná. Dentro dos estádios e no seu entorno, estão proibidas camisas, faixas, bandeiras, adesivos, bonés, enfim, qualquer vestimenta ou adereço que tenha ligação com torcidas organizadas. Será que vai funcionar? Duvido muito.

Os defensores da estratégia dizem que os uniformes de torcidas encorajam quem os veste. Que estimulam aglomeração indesejada de pessoas e unem grupos intencionados em praticar atos ilícitos. Uma camiseta faz tudo isso? Prendam-na, então! Um gorro na cabeça deixa o cidadão mais macho? Cadeia nele! Pena de morte ao gorro.

A violência é um problema social muito maior e mais difícil de controlar do que nossas autoridades desenham. Vários países já passaram por isso, com seus torneios de futebol sendo acossados por causa das arruaças dentro e fora de campo. Exemplo mais claro nos deu a Inglaterra, palco de várias tragédias. Uma delas nada teve a ver com pancadaria, mas sim com desorganização, outro mal que pelo menos por lá conseguiram banir.

Em abril de 1989, um total de 96 pessoas morreram e mais de 700 ficaram feridas num jogo entre Liverpool e Nottingham Forest, válido pela Copa da Inglaterra. As vítimas fatais foram esmagadas contra a grade que separava a arquibancada do gramado. A Terra da Rainha também é o país do hooligans por excelência. Gladiadores que transformavam ruas em praças de guerra e não precisavam de camisas de grupos organizados para aterrorizar as cidades da Europa. Brigavam sem camisa mesmo.

Somente o rigor da lei os dominou. Foram necessárias reformas penais, muito investimento nas praças esportivas e nas polícias, para que a Inglaterra voltasse a ser aceitada pela UEFA. Sem contar as várias punições aplicadas aos clubes e à própria liga inglesa. Como exemplo, em 1975 o Leeds foi banido das competições européias por quatro anos, em virtude dos excessos cometidos pelos seus torcedores em Paris, na final da Copa dos Campeões da Europa contra o Bayern. Em 1980, a própria Inglaterra foi obrigada a pagar uma multa de 8 mil libras pelas badernas provocadas pelos seus torcedores em Turim, durante a Eurocopa.

Boa parte dos arruaceiros que geram manchetes negativas para o seu país está fichada. Não podem frequentar estádios. Têm seu rostos conhecidos pelos agentes da lei. E a pena para quem andar fora da linha é severa. É assim que se faz. Muito da evolução que se assistiu mundo afora nos últimos tem a ver com as Copas do Mundo. O caderno de encargos da Fifa, documento que as confederações de futebol têm que seguir para assumir a realização de um Mundial, tem elevado o padrão de exigências, cobrando inclusive o recrudescimento de leis que possam punir maus torcedores.

O Brasil tem o compromisso de organizar a Copa de 2014 e uma das principais soluções que deve apresentar é em relação à sua legislação. Hoje, frequentadores de praças esportivas agem impunemente, permitindo que determinações administrativas inócuas tenham espaço, como esta de proibir as pessoas de trajarem camisas das torcidas dos seus times.

Não é vetando vestimentas que se resolve o problema. O que as pessoas de bem querem é que os arruaceiros, com camisas de organizadas ou não, sejam identificados, punidos e cerceados do convívio esportivo como já acontece em vários países da Europa. Todo o resto é balela.

***Por Rafael Tavares de Mello, jornalista e diretor do jornal Tribuna do Paraná, de Curitiba, um dos mais importantes da Região Sul do Brasil.