21/03/2010 0 ***´Túnel do Tempo´ é uma seção do blog LD Sport News onde se poderá ver entrevistas e reportagens antigas. Personagens conhecidos que se destacaram em algum momento no cenário esportivo europeu e que, muitos deles, ainda seguem como referências no Velho Continente. O lateral Daniel Alves do FC Barcelona é o primeiro da série. A entrevista foi realizada na Cidade-Esportiva Joan Gamper na segunda metade de novembro de 2009. Pouco depois, o jogador brasileiro ganharia o mundial de clubes da Fifa e entraria para a história do futebol ao conseguir seis títulos numa mesma temporada com o clube catalão.*** Até se converter em um dos ídolos do futebol espanhol e do poderoso FC Barcelona, Daniel Alves enfrentou muitas dificuldades. De origem humilde, passou sua infância em Juazeiro onde começou na equipe local e ainda adolescente se transferiu ao EC Bahia. O sonho dele – e do pai – de ser um jogador profissional começava a materializar-se. Alves em uma coletiva no CT do Barça. Foto: LD Sport News (Sergio Scripilitti) Então, na reta final Brasileirão de 2001 ele fez a sua estreia como profissional em uma vitória do Bahia sobre o Paraná Clube por 3 a 0. Por coincidências da vida, pelas mãos de Evaristo de Macedo, até hoje o maior craque brasileiro na história do FC Barcelona e técnico do tricolor baiano na época. Alves foi o melhor jogador da partida e sua hora definitivamente tinha chegado. Após ser convocado para as categorias de base da seleção brasileira, o Sevilha se interessou por ele em 2003. Dessa maneira, Alves atravessava o Atlântico rumo à Espanha, país que se convertiría no seu segundo lar. “Cheguei em Sevilha ainda menino e saí dali como um homem”, relata o jogador. Nessa parte da entrevista, Alves oferece o seu lado mais humano, que poucos conhecem. LD Sport News – Quando você era criança no interior da Bahia tinha que conciliar o trabalho no campo com o colégio e a escolinha de futebol. Como foi essa fase? Dani Alves – Eu tinha que ajudar meu pai que trabalhava no campo. Era necessário. Isso foi até chegar ao juvenil do Juazeiro Clube. Foi um começo duro, difícil, mas essas dificuldades só me fizeram crescer como pessoa e aprendi desde pequeno a dar valor às coisas. Essa polivalência na vida desde pequeno te serviu para ser esse ´multi-tarefas´ dentro de campo também? Acho que de algum modo ajudou sim. Nunca tive problemas para jogar em outra posição. Sempre estive a disposição dos meus treinadores para isso, só que sempre busco deixar claro que prefiro atuar como lateral-direito. Você realizou um ensaio ao melhor estilo modelo para uma revista catalã, usa brincos, busca sempre estar na moda. Você é vaidoso? Se eu te dissesse que não, estaria mentindo. Gosto de acompanhar a moda, mas sem ser extravagante. Busco um estilo mais normal, até mesmo para não dar margem para más interpretações (risos). A entrevista foi feita na Cidade Esportiva Joan Gamper, do FC Barcelona / Lu Berlese E as tatuagens? Tenho seis e todas têm um significado especial para mim. Como as que tenho com o nome dos meus filhos. Você viveu a fase mais gloriosa da história do Sevilha sendo um dos líderes daquele time e será eternamente ídolo naquela cidade. O que você mais guarda dessa sua etapa? Tudo. Adoro essa cidade. Enfrentei dificuldades no início, mas me adaptei e pude viver a transformação do Sevilha em uma potência do futebol europeu. O povo sevilhano é muito alegre, muito parecido ao brasileiro. Deixei muitos amigos lá. Acho que nessa vida é importante ter amigos, afinal você nunca sabe como será o dia de amanhã. Barcelona é muito diferente? Em alguns aspectos. As pessoas aqui são legais também, mas de um modo mais conservador, mais fechado. Como cidade, Sevilha e Barcelona são de uma beleza única, cada uma à sua maneira. Mas acredito que as comparações nunca são positivas. Os dois lugares têm suas coisas boas e ruins. Qual estilo musical você prefere? Acho que sou um pouco eclético, escuto um pouco de tudo. Mas o samba está um passo na frente. Se não escuto meu pagodinho antes de entrar em campo é que alguma coisa está errada. Em dia de jogos, é como um ritual. Tantos anos na Espanha fez você perder aquele lado ´arretado´ da Bahia? De forma alguma, nunca perdi minhas raízes baianas. Mas sem dúvida já estou bastante ´espanholizado’. Às vezes quando dou entrevistas no Brasil, esqueço algumas palavras em português e disfarço com alguma em espanhol (risos). Os teus pais moram no Brasil? Sim, na Bahia. Aquí moro só com minha mulher e os meus filhos. Também tenho três irmãos mais velhos e uma irmã mais nova. Sempre passo a metade das minhas férias com eles, no Brasil, quando desconecto de tudo. Só assim para poder aguentar as duras temporadas do futebol europeu. E o contato com o futebol? Meu pai jogou, mas não foi profissional. Logo, meu irmão mais velho tentou ser jogador, mas não teve sorte. O contato veio através deles e o destino quis que eu fosse o escolhido. Pelo menos tive a benção de poder realizar o sonho do meu pai de ter um filho jogador. A tua dieta sofre um duro controle do técnico do Barcelona, Pep Guardiola. Quando você está livre disso, qual a sua comida predileta? A comida baiana em geral, sem dúvida. Aqui em Barcelona graças a Deus conseguimos encontrar um lugar onde vendem quiabo, azeite-de-dendê, leite de côco, enfim, o necessário para deixar um baiano feliz (risos). Você sabe o que é enfrentar dificuldades na vida. Agora que você pode, ajuda aos mais humildes? Sim, sempre busco ajudar e quem me conhece sabe disso. Mas não sou muito de falar até para não pensarem que busco tirar proveito dessa situação. Também tenho um projeto de criar uma fundação em um futuro próximo. Tem algum momento engraçado na sua carreira que você não esquece? Fiquei impressionado quando fui de Juazeiro para Salvador, para treinar no Bahia. Eu era do interior e tudo na capital para mim era novidade. Um dia, na concentração do clube lavei minha roupinha pessoal, pendurei ela e fui dar um passeio. Quando voltei só estava a cordinha. Falei: – Pelo Amor de Deus, os ´gatunos´ daqui são ligeiros (risos). Depois disso, passei a pagar para lavar minha roupa, mas pelo menos tinha ela de volta. E qual o momento mais triste? Sem dúvida a morte do meu companheiro e amigo do Sevilha, Antonio Puerta (falecido em 2007, dois dias após sofrer um desmaio em um jogo da Liga Espanhola). Isso me marcou muito e um momento pior que esse no futebol vai ser difícil de viver. O que mais admira em uma pessoa? A sinceridade. Até porque creio que sou um pouco ´bobo´ no sentido de confiar muito nos outros. Por mais que me ofenda, prefiro que as pessoas me digam a verdade e que sejam transparentes. Não gosto de mentiras. FICHA TÉCNICA Nome: Daniel Alves da Silva Idade: 26 anos Altura: 1,73m Peso: 64kg Posição: lateral-direito Clube: FC Barcelona TÍTULOS EC Bahia: Camp. Baiano (2001); Copa do Nordeste (2001 e 2002) Sevilla FC: Copa da Uefa (2005/06 e 06/07); Copa do Rei da Espanha (2006/07); Supercopa da Europa (2006) e Supercopa da Espanha (2007). FC Barcelona: Liga Espanhola (2008/09); UEFA Champions League (2008/09); Copa do Rei da Espanha (2008/09); Supercopa da Europa e Supercopa da Espanha (2009). Seleção Brasileira: Mundial sub-20 (2003); Copa América (2007) e Copa das Confederações (2009). Tags: barcelona, cafu, dani alves, daniel alves, entrevista, fc barcelona, lateral